Fernanda Cruzick - MULTIPLICIDADE
21 de julho a 30 de agosto de 2016   
De 2a feira a sábado, das 13 às 18 horas

 

 
 

  NA DISCUSSÃO DA MEMÓRIA

Depois da ampla incursão na estamparia que assegura determinante permanência nas suas criações, Fernanda Cruzick alvidra um olhar incomum sobre o mundo e principia, em 2001, interesse por questões memoriais presentes na série Reflexos de Chão criando releituras de ladrilhos hidráulicos, “obsessão decorativa do final do século XIX e início do XX, que povoam pisos de edificações e espaços urbanos” como observa o arquiteto Marcos Olender.

Inicialmente referenciada na memória dessas peças hidráulicas da Construtora Pantaleoni Arcuri (Juiz de Fora), Cruzick aventa criações que recuperam esse objeto que, por seus aspectos materiais e gráficos, alcança um status de relevante personagem e torna-se um arquétipo da arquitetura industrializada. Esses objetos, fios condutores de sua criação, exploram infinitas possibilidades das sobreposições decretadas por recortes que derivam inovadoras formas resultantes do jogo entre transparência e opacidade, tingidas por tintas que, gradativamente, se intensificam.

Nos conjuntos Multiplicidade e Games, idealizados no entre-tempos do calendário, preserva-se, em comum, além do ânimo temático, o aspecto ótico e lúdico, legados de permanência sugestionada na excelência da gênese dos objetos dispersos, indiferentes e instigadores, neo-dadaístas de Leonino Leão, criador contemporâneo reverenciado por Cruzick ao longo de sua carreira.

Nas reminiscências do décor da cidade de outrora, Cruzick concebe malhas (teias) cromáticas a examinar o ardiloso universo da cor, reavendo-lhe harmonias contrárias ao senso comum prenunciando por pochoir, técnica recorrente da série Jazz, de Matisse, criações que concertam articulações combinatórias dos variantes diálogos possíveis entre as peças

Fernanda Cruzick constata aguçado sentido no esquecimento do objeto memorialístico, impregnado de conhecimento e suplicante na reeducação visual, concebendo ressignificações inovadoras e expectações para o óbvio.

José Alberto Pinho Neves
Professor do Instituto de Arte e Design da Universidade Federal de Juiz de Fora
Diretor do Museu da República Itamar Franco – Juiz de Fora

   
 

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